Algazarra do bem
Além dos milagres
já anunciados — fazer os brasileiros se apaixonarem por um argentino e, mais,
um argentino humilde, alguém conhece outro? — o Papa Francisco está promovendo
um espetáculo ao qual nem as nossas mais famosas festas pagãs, o carnaval e o futebol,
nem o réveillon, que é meio profano, meio religioso, se equiparam em fervor e
alegria natural (sem o estímulo etílico).
Levar 500 mil pessoas às areias encharcadas de Copacabana
num dia e, no seguinte, o dobro disso para assistirem a demoradas cerimônias
religiosas debaixo de uma chuva cortante e sob um frio desconhecido, que parece
ter sido trazido na mochila dos peregrinos noruegueses, é um feito inédito.
Ele atribuiu à força da fé essa afluência de multidões
molhadas para vê-lo, ouvi-lo e, quando possível, tocá-lo. De fato, tirar as
pessoas de casa ou dos alojamentos para enfrentar um trânsito caótico que não
poupou nem o Sumo Pontífice na chegada, suportar pane do metrô e falta de
ônibus, entrar em filas intermináveis para obter senhas, acordar de madrugada,
aguentar enfim estoicamente a indesculpável desorganização de um evento
previsto há meses, só mesmo por milagre. Bote fé nisso!
“Sempre ouvi dizer que os cariocas não gostam do frio e
da chuva, mas vocês estão mostrando que a fé é mais forte que o frio e a
chuva”, ele discursou ontem na comunidade de Manguinhos.
Por modéstia, não acrescentou que, tanto quanto a fé, há
o seu carisma e incrível capacidade de mobilizar as massas, empolgá-las e
seduzi-las com palavras e gestos, graça e humor. E a resistência física?
- Zuenir Ventura -
Nenhum comentário:
Postar um comentário