Ruth e FHC, Chile, 1968 - Arquivo Pessoal/ Instituto FHC
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O ano de 2012 se
encerrou de forma absolutamente normal no Congresso Nacional. Em sua última
sessão, o Senado aprovou um trem da alegria para os três poderes, com a criação
de milhares de cargos numa só canetada.
É normal porque
a caneta era de José Sarney, companheiro de Dilma Rousseff, uma aliança que,
todos sabem, serve ao Brasil de todos – todos os que fizeram as amizades
certas.
Se você está de fora
dessa, terá que cumprir em 2013 o destino trágico dos reles mortais, esses
infelizes que não têm uma Rosemary para chamar de sua – e que ainda fazem uma
coisa primária que os companheiros revolucionários não precisam mais fazer:
trabalhar.
Mas não se desespere.
A vida dos excluídos (do banquete petista) tem lá suas compensações. É bem
verdade que você nunca verá um filho seu ficar famoso da noite para o dia por
ter arranjado uma boquinha na Anac ou no Senado.
Nunca lhe
convidarão, também, para uma reunião com José Dirceu para “reforçar o Marco
Maia”. Enfim, você não tem a menor importância na República do Oprimido, mas
nem tudo são espinhos: ninguém lhe pedirá para cantar “olê, olê, olê, olá,
Lula, Lula” em desagravo ao filho do Brasil – o que já é um vidão.
Para consolar os
excluídos, os que vivem miseravelmente sem acesso a uma única teta do Estado
brasileiro, uma ponderação: o Brasil se tornou um país previsível, de rumo
firme, o que torna possível antecipar o que vai acontecer em 2013.
Isto jamais seria
possível antes do Descobrimento (em 2003) – portanto, não reclame de barriga
cheia.
Em março, Dilma
Rousseff convocará a primeira cadeia nacional de rádio e TV da série 2013. Fará
um pronunciamento à nação pelo Dia Internacional da Mulher. Falará com a voz
embargada, sobre um fundo de violinos, e se a iluminação do estúdio estiver
correta, parecerá ter os olhos molhados.
Encherá os
brasileiros de orgulho por serem governados por uma “presidenta” – palavra que
seus assessores saberão encaixar no discurso – e anunciará algum programa
social novo, tipo Brasil Caridoso, Brasil Sem Tristeza ou Brasil Fofo.
Apresentará uma
estatística impressionante, encomendada ao Ipea e à FGV, mostrando que nos anos
Fernando Henrique lugar de mulher era na cozinha.
(Guilherme
Fiúza, ÉPOCA)
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