domingo, 6 de janeiro de 2013

2013, o ano que já terminou

Ruth e FHC, Chile, 1968 - Arquivo Pessoal/ Instituto FHC
 O ano de 2012 se encerrou de forma absolutamente normal no Congresso Nacional. Em sua última sessão, o Senado aprovou um trem da alegria para os três poderes, com a criação de milhares de cargos numa só canetada.

É normal porque a caneta era de José Sarney, companheiro de Dilma Rousseff, uma aliança que, todos sabem, serve ao Brasil de todos – todos os que fizeram as amizades certas.

Se você está de fora dessa, terá que cumprir em 2013 o destino trágico dos reles mortais, esses infelizes que não têm uma Rosemary para chamar de sua – e que ainda fazem uma coisa primária que os companheiros revolucionários não precisam mais fazer: trabalhar.

Mas não se desespere. A vida dos excluídos (do banquete petista) tem lá suas compensações. É bem verdade que você nunca verá um filho seu ficar famoso da noite para o dia por ter arranjado uma boquinha na Anac ou no Senado.

Nunca lhe convidarão, também, para uma reunião com José Dirceu para “reforçar o Marco Maia”. Enfim, você não tem a menor importância na República do Oprimido, mas nem tudo são espinhos: ninguém lhe pedirá para cantar “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” em desagravo ao filho do Brasil – o que já é um vidão.

Para consolar os excluídos, os que vivem miseravelmente sem acesso a uma única teta do Estado brasileiro, uma ponderação: o Brasil se tornou um país previsível, de rumo firme, o que torna possível antecipar o que vai acontecer em 2013.

Isto jamais seria possível antes do Descobrimento (em 2003) – portanto, não reclame de barriga cheia.

Em março, Dilma Rousseff convocará a primeira cadeia nacional de rádio e TV da série 2013. Fará um pronunciamento à nação pelo Dia Internacional da Mulher. Falará com a voz embargada, sobre um fundo de violinos, e se a iluminação do estúdio estiver correta, parecerá ter os olhos molhados.

Encherá os brasileiros de orgulho por serem governados por uma “presidenta” – palavra que seus assessores saberão encaixar no discurso – e anunciará algum programa social novo, tipo Brasil Caridoso, Brasil Sem Tristeza ou Brasil Fofo.

Apresentará uma estatística impressionante, encomendada ao Ipea e à FGV, mostrando que nos anos Fernando Henrique lugar de mulher era na cozinha.
(Guilherme Fiúza, ÉPOCA)

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